Polícia investiga caso de corpo embalado com saco de lixo em UTI para pacientes com Covid, no DF

Por Redação em 15/04/2021 às 22:20:37

Governo do DF pediu apuração. Chefe da Casa Civil, Gustavo Rocha, diz que 'há invólucro adequado' no hospital e cena gravada 'pode ter algum interesse político'. Corpo de vítima da Covid-19 é embalado em saco plástico ao lado de pacientes em UTI do DF

A Polícia Civil do Distrito Federal investiga os responsáveis por embalar o corpo de uma vítima da Covid-19 em um saco plástico, e deixar o cadáver em uma maca, ao lado dos pacientes, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O caso ocorreu no Hospital Regional de Santa Maria, no dia 6 de abril (veja vídeo acima).

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O inquérito foi aberto a pedido do governo do Distrito Federal. A informação foi divulgada pelo chefe da Casa Civil, Gustavo Rocha, nesta quinta-feira (15).

O secretário afirma que "há invólucro adequado" na unidade de saúde, e que a divulgação das imagens na internet "pode ter algum interesse político". Outra denúncia, sobre falta de energia no Hospital do Paranoá, por sobrecarga da rede, também será apurada pela polícia (saiba mais abaixo).

As imagens de um corpo, envolvido em um saco preto, foram feitas por uma funcionária do hospital público para denunciar que o tratamento estava em desacordo com o protocolo do Ministério da Saúde. O órgão determina o uso de um invólucro específico para óbito, borrifado com hipoclorito de sódio.

'Evento pontual'

Corpo de vítima da Covid-19 é embalado em saco plástico e deixado ao lado de pacientes em UTI no DF

TV Globo/Reprodução

Quando as imagens foram divulgadas, o Instituto de Gestão Estratégica (Iges-DF), responsável pelo Hospital Regional de Santa Maria, disse que a área onde estava o corpo, no primeiro andar do prédio, estava sob responsabilidade de uma empresa terceirizada, a Associação Saúde em Movimento (ASM) – contratada pela Secretaria de Saúde.

Em nota, a ASM afirmou que o fato foi um "evento pontual, de falha de comunicação da equipe operacional". As imagens do corpo embalado em saco plástico são da na noite de 5 de abril.

"Esclarecemos que todos os materiais e insumos necessários para prestação de assistência aos pacientes são disponibilizados em todas as unidades vinculadas à instituição, bem como para este procedimento. Deixamos claro que, estão sendo tomadas as medidas cabíveis quanto ao episódio", diz trecho da nota.

Investigação

Chefe da Casa Civil do DF diz que caso de corpo embalado em saco plástico será apurado porque 'pode haver interesse político'

O secretário Gustavo Rocha afirma que "a situação chamou muita atenção" e o secretário de saúde, Osnei Okumoto, procurou informações. "Ele [Osnei Okumoto] buscou a imagem no circuito interno do hospital e verificou que uma determinada pessoa enrolou esse corpo em um saco de lixo e logo em seguida veio uma outra pessoa e tirou as fotos. Pela imagem, dá até pra ver a pessoa tirando fotos e escondendo a câmera", conta o chefe da Casa Civil.

"Vamos aguardar a Polícia Civil e que os envolvidos sejam punidos pela conduta", diz Rocha.

O secretário explicou que a Polícia Civil "já está ouvindo as pessoas envolvidas". O G1 questionou a corporação sobre o andamento do caso, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

De acordo com o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, "mesmo que tenha acontecido o óbito no leito, as pessoas vão, pegam os invólucros e fazem o acondicionamento correto do corpo". Segundo ele, o procedimento é rápido.

"São questões de minutos. A pessoa se aproveitou desse momento para fazer essa ação. Essas investigações é que vão dizer o que aconteceu", diz Okumoto.

Outras denúncias

Em março, houve outros casos de armazenamento de corpos em desacordo com os protocolos. Um deles, ocorreu no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), quando um homem de 45 anos morreu e o corpo ficou no corredor pelo menos por 24 horas, segundo denúncia recebida pela reportagem.

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De acordo com a denúncia, houve demora para a remoção por parte do sistema funerário porque o cadáver não havia sido preparado conforme o recomendado. Imagens mostraram o corpo enrolado em um pano, e com secreção à mostra.

Corpo de vítima da Covid-19 fica em corredor do Hospital Regional de Ceilândia, no DF

Arquivo pessoal

À época, o secretário da Casa Civil disse que "foi uma situação pontual". Segundo ele, o homem que morreu, em consequência da Covid-19, pesava mais de 200 kg.

"No momento que foram, a funerária não tinha o invólucro grande o suficiente para colocá-lo, por isso ele ficou mais tempo lá até que chegasse esse material", disse o secretário.

Também no final de março, imagens feitas dentro do Hospital Regional de Ceilândia (HRC) mostraram corpos em macas, fora da câmara fria. A pessoa que gravou as cenas – e preferiu não se identificar – disse que o acúmulo de corpos era consequência da superlotação do hospital público.

Corpos são armazenados fora da câmara fria em hospital público do DF

Na ocasião, a Secretaria de Saúde informou que o HRC abriga o Serviço de Verificação de Óbito (SVO), que recebe pessoas que morreram em casa, e que passam pelo teste de Covid-19. Questionada se havia infectados no setor gravado, a pasta respondeu que "os corpos aguardam o resultado do exame".

Apesar dos corpos estarem fora da câmara fria, e ainda sem teste para o novo coronavírus, a Secretaria de Saúde disse que "não procede" que os corpos estejam "em locais inadequados"

Falta de energia

Hospital do Paranoá, no DF, ficou sem luz na segunda-feira (12)

Segundo o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, o caso de falta de energia elétrica no Hospital da Região Leste (HRL), no Paranoá, na segunda-feira (12), também vai ser investigado. "Solicitei que fosse aberto um boletim de ocorrência", disse.

Um vídeo mostra um "plantão à luz de velas", no Pronto Socorro do hospital. Nas imagens é possível ver a unidade sem luz e, de acordo com os funcionários, o problema é frequente.

Questionada sobre o caso, na ocasião, a Secretaria de Saúde havia informado que houve uma queda na rede elétrica e que "algumas lâmpadas do pronto-socorro ficaram desligadas". Segundo a pasta, "os técnicos constataram que ocorreu queda de chave no quadro de energia que alimenta o pronto-socorro" e que "a equipe técnica está revisando a rede elétrica, para verificar o que provocou o problema".

Secretário de Saúde, Osnei Okumoto, pediu investigação de apagão em hospital do DF; ele diz que "há maldade das pessoas que querem prejudicar trabalho"

No entanto, servidores dizem que a sobrecarga na rede é consequência "do acúmulo de ventiladores mecânicos, de maneira indevida". Um funcionário, que não quis se identificar, conta que a direção do hospital "está sabendo, desde o começo da pandemia, e não tomou providências".

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Ao falar sobre o caso, Okumoto disse que houve "maldade" dos profissionais. "Foi um apagão, felizmente, [apenas] da luz. Os equipamentos continuaram funcionando. Nesse período, de três minutos, até alguém chegar no disjuntor e religar, foram tiradas fotos e encaminhados para a imprensa", disse ele.

"Então, você nota que há uma maldade das pessoas que querem prejudicar o trabalho, que pode muitas vezes levar ao óbito desses pacientes graves que estão ali", diz o Secretário de Saúde.

Ainda de acordo com o secretário, "sempre que acontecer qualquer tipo de sabotagem ou atos desse tipo" será aberto boletim de ocorrência.

Leia mais notícias sobre a região no G1 DF.

Fonte: G1/DF

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