Denúncias de trabalho infantil crescem 41% em 2024; entidade aponta escassez de recursos para combate

Por Redação em 11/06/2025 às 12:08:50

Brasil registrou 4,2 mil denúncias de trabalho infantil no ano passado, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos. Levantamento do Inesc aponta que o governo não tem investido em programas exclusivos de enfrentamento. Denúncias de trabalho infantil crescem 41% em 2024

O Brasil registrou 4.286 denúncias de trabalho infantil em 2024, por meio da plataforma Disque 100, segundo dados do Painel da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. O número é 40,6% maior do que o registrado em 2023, ano em que houve 3.047 denúncias.

Isso significa que, em média, foram registradas 357 denúncias por mês, em todo o país, referentes a esse tipo de violação aos direitos das crianças e adolescentes. Nesta quinta-feira, 12 de junho, é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil.

Infográfico mostra o aumento de denúncias de trabalho infantil no Brasil


Reprodução/GloboNews

Em meio ao aumento de denúncias, uma análise orçamentária feita pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) mostra que, nos últimos anos, o governo federal não investiu em programas exclusivos para o enfrentamento do trabalho infantil.

Entre 2012 e 2016, houve o fortalecimento desses programas. Mas, alguns anos depois, eles foram extintos.

"Principalmente de 2019 até 2023, o programa de erradicação ao trabalho infantil foi erradicado. O governo federal não apoiou mais o programa durante esses anos", explica a assessora política do Inesc especializada em Infância e Juventude, Thallita de Oliveira.

O enfrentamento ao trabalho infantil é de responsabilidade compartilhada de municípios, estados e da União.

- No ano passado, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) retomou o programa de combate ao trabalho infantil. No entanto, apesar de o programa ter autorização de R$129 mil para realizar ações em 2024, nenhum real foi efetivamente empregado.

A pesquisadora do Inesc afirma que a retomada da política de combate ao trabalho infantil na esfera federal foi um avanço, mas que ainda a execução dos recursos destinados ao tema ainda é baixa.

"Essa morosidade faz com que muitas crianças e adolescentes se mantenham ainda nessa situação que é muito grave e impacta o desenvolvimento de meninos e meninas no país, que em sua maioria são muito empobrecidos", diz Oliveira.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome também conta com um programa relacionado ao assunto: o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil).

Em 2024, a iniciativa contou com alocação de R$2 milhões, mas empenhou menos de 10% desse valor — cerca de R$195 mil.

Em nota, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome afirma que a retomada do cofinanciamento desse programa com os municípios é prioridade da atual gestão e está prevista na Lei Orçamentária Anual de 2025 com mais de R$57 milhões.

Crianças e adolescentes afastados do trabalho

Dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que, por meio da Inspeção do Trabalho, entre 2023 e abril de 2025, foram identificados e afastados do trabalho 6.372 crianças e adolescentes.

Desse total, 86% dos casos envolvem atividades que possuem graves riscos ocupacionais e sérios prejuízos à saúde e ao desenvolvimento integral de crianças e adolescentes.

Entre as principais atividades constatadas, estão:

comércio varejista

setor de alimentação

oficinas de manutenção e reparação de veículos automotores

agricultura e pecuária.

- Ainda de acordo com dados do MTE, 3 em cada 4 afastados eram do sexo masculino. Além disso, a maior parte das vítimas tinha entre 16 e 17 anos de idade. Nessa faixa de idade, o trabalho é permitido, desde que não seja exercido em período noturno, e em local insalubre ou perigoso.

E, segundo o ministério, 12% dos afastados tinham até 13 anos — faixa etária na qual é proibida qualquer forma de trabalho.

Infográfico mostra que 74% das crianças submetidas a trabalho infantil são do sexo masculino

Reprodução/GloboNews

- Depois de afastadas do trabalho infantil, as crianças e adolescentes são encaminhadas a diversos órgãos no intuito de serem inseridas em políticas públicas para evitar o retorno ao trabalho precoce.

Elas são atendidas, por exemplo, por conselhos tutelares e secretarias de assistência social e de educação.

- A partir dos 14 anos, se desejarem, os adolescentes também podem ser encaminhados para programas de aprendizagem profissional, que oferecem qualificação em ambientes de trabalho protegidos, com todos os direitos trabalhistas e previdenciários assegurados.

De acordo com o MTE, esses programas promovem uma transição segura e adequada da escola para o mundo do trabalho, fortalecendo o acesso à educação formal.

O Ministério do Trabalho e Emprego reforça que, além do Disque 100, outro meio de denúncia muito importante é o Sistema Ipê, específico para denúncias de trabalho infantil. Qualquer cidadão pode acessar o site para realizar a denúncia.

Fonte: G1

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