Trama golpista: STF ouvirá Bolsonaro e outros 7 réus em ação penal; saiba o que diz a PGR sobre cada um

Por Redação em 09/06/2025 às 01:30:06

Segundo a Procuradoria-Geral da RepĂșblica, grupo faz parte do 'nĂșcleo crucial' da organização criminosa que atuou pela ruptura democrĂĄtica. O Supremo Tribunal Federal (STF) vai realizar, a partir desta segunda-feira (9), o interrogatório dos oito acusados de tentativa de golpe de Estado em 2022. Entre eles, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Segundo a Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR), o grupo faz parte do chamado "nĂșcleo crucial" da organização criminosa que atuou pela ruptura democrĂĄtica.

Ao longo de maio, testemunhas de defesa e acusação foram ouvidas na Corte. O interrogatório dos réus marca a reta final da fase de instrução do processo penal. Na sequĂȘncia, acusação e defesa podem ter prazo para pedir diligĂȘncias adicionais.

Encerrada esta etapa, deve ser aberto o prazo de 15 dias para alegações finais.

Jair Bolsonaro, Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres, Mauro Cid, Alexandre Ramagem, Almir Garnier Santos e Paulo Sérgio Nogueira

g1

Serão realizadas audiĂȘncias na Primeira Turma ao longo de toda a semana, até a sexta-feira (13).

O primeiro a ser ouvido serĂĄ Mauro Cid, que fechou uma delação premiada com a PolĂ­cia Federal. Os outros sete réus serão interrogados em ordem alfabética.

O g1 explica o que a PGR atribui a cada um dos acusados que devem ser interrogados.

Jair Bolsonaro

Ex-presidente Jair Bolsonaro tem alta após passar por nova cirurgia abdominal.

REUTERS/Adriano Machado

Quem é: ex-presidente da RepĂșblica;

O que diz a PGR: o ex-presidente formou, com os outros sete aliados denunciados no mesmo documento, o "nĂșcleo crucial da organização criminosa".

Deles partiram as "principais decisões e ações de impacto social" para a ruptura democrĂĄtica. Bolsonaro é o lĂ­der da organização criminosa armada voltada para o golpe de Estado.

Atuou, por exemplo, na propagação de ataques ao sistema eleitoral, na edição da versão final do decreto golpista e na pressão sobre os militares para aderir à insurreição.

Ainda interferiu diretamente na conclusão do relatório das Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas. A PGR disse que hĂĄ elementos que apontam que Bolsonaro tinha conhecimento do plano Punhal Verde Amarelo, o plano para assassinar autoridades.

Bolsonaro denunciado: veja principais pontos das acusações da PGR

Alexandre Ramagem

Alexandre Ramagem dĂĄ entrevista ao RJ1 — Foto: Reprodução/TV Globo

Reprodução

Quem é: deputado federal, ex-diretor-geral da AgĂȘncia Brasileira de InteligĂȘncia (Abin).

O que diz a PGR: prestou auxĂ­lio direto a Bolsonaro na deflagração do plano criminoso.

Teve "importante papel", segundo a PGR, na "construção e direcionamento das mensagens que passaram a ser difundidas em larga escala pelo então Presidente da RepĂșblica" a partir de 2021.

Os investigadores atribuem a ele ainda um documento "que apresentava uma série de argumentos contrĂĄrios às urnas eletrônicas, voltados a subsidiar as falas pĂșblicas" do ex-presidente com ataques às urnas eletrônicas.

Comandou um grupo de policiais federais e agentes da Abin que se valeu da estrutura de inteligĂȘncia do Estado indevidamente - a chamada "Abin Paralela".

Almir Garnier Santos

O almirante Almir Garnier Santos foi comandante da Marinha

Reprodução

Quem é: ex-comandante da Marinha;

O que diz a PGR: as investigações indicam que o militar aderiu ao plano de golpe.

Em reunião em dezembro de 2022, o então comandante da Marinha se colocou à disposição de Bolsonaro para seguir as ordens do decreto golpista.

Confirmou seu aval à trama golpista em uma segunda reunião no mesmo mĂȘs.

Anderson Torres

Ex-ministro Anderson Torres em depoimento à CPI dos Atos Golpistas

WALLACE MARTINS/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Quem é: ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro;

O que diz a PGR: nos cargos na gestão Bolsonaro, replicou narrativas sobre a suposta fraude nas urnas divulgada em live de julho de 2021, "distorcendo informações e sugestões recebidas da PolĂ­cia Federal".

Atuou para implementar o plano para viabilizar os bloqueios da PolĂ­cia RodoviĂĄria Federal em estados do Nordeste, de modo a evitar que eleitores favorĂĄveis ao presidente Lula chegassem às urnas.

Elaborou documentos que seriam usados no golpe de Estado. Na casa de Torres foi encontrada a minuta de um decreto de Estado de Defesa, para intervenção no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

JĂĄ como secretĂĄrio de Segurança do Distrito Federal, omitiu-se nas providĂȘncias para evitar o ataque às sedes dos TrĂȘs Poderes em 8 de janeiro.

Augusto Heleno

Ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general da reserva Augusto Heleno.

Geraldo Magela/AgĂȘncia Senado

Quem é: ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional do governo Bolsonaro;

O que diz a PGR: assim como Ramagem, atuou no auxĂ­lio direto a Bolsonaro para colocar em prĂĄtica o plano criminoso.

Teve papel importante na construção de ataques ao sistema eleitoral — em uma agenda encontrada na casa do militar, havia um planejamento para fabricar discurso contrĂĄrio às urnas.

Participou do plano para descumprir decisões judiciais, a partir de um parecer que seria elaborado pela Advocacia-Geral da União. Sua agenda também contava com registros que indicariam que ele sabia sobre as ações da "Abin Paralela".

Seria o chefe do "gabinete de crise" criado pelo governo Bolsonaro depois da consumação do golpe de Estado.

Paulo Sérgio Nogueira

Quem é: ex-ministro da Defesa;

O que diz a PGR: participou de reunião com Bolsonaro e outras autoridades, em julho de 2022, em que o ex-presidente teria pedido que todos propagassem seu discurso de vulnerabilidade das urnas.

Na reunião, Bolsonaro antecipou aos presentes o que faria na reunião com embaixadores, no mesmo mĂȘs (na ocasião, fez ataques ao sistema eleitoral). No mesmo encontro, o militar instigou a ideia de intervenção das Forças Armadas no processo eleitoral.

Esteve na reunião de dezembro em que a proposta de decreto do golpe; na semana seguinte, numa reunião com os comandantes miliares, apresentou uma segunda versão do decreto.

"A presença do Ministro da Defesa na primeira reunião em que o ato consumador do golpe foi apresentado, sem oposição a ele, sem reação alguma, significava, só por isso, endosso da mais alta autoridade polĂ­tica das Forças Armadas", diz a PGR.

Além disso, "ao pela segunda vez insistir, em reunião restrita com os Comandantes das trĂȘs Armas, na submissão de decreto em que se impunha a contrariedade das regras constitucionais vigentes, a sua integração ao movimento de insurreição se mostrou ainda mais indiscutĂ­vel"

Walter Braga Netto

Ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto

Isac Nóbrega/PR

Quem é: ex-ministro da Defesa e da Casa Civil; também foi candidato a vice na chapa presidencial com Bolsonaro em 2022;

O que diz a PGR: foi um dos presentes na reunião com Bolsonaro e outras autoridades, em julho de 2022, em que o ex-presidente teria pedido que todos amplificassem seus ataques ao sistema eleitoral.

Uma reunião na casa de Braga Netto, em novembro do mesmo ano, discutiu a atuação dos "kids pretos" dentro do plano "Punhal Verde Amarelo", o plano para matar autoridades.

Participou do financiamento da ação para assassinar o presidente Lula, o vice Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, no estĂ­mulo aos movimentos populares, em reuniões para operacionalizar o plano golpista e na pressão sobre os militares que não aderiram ao golpe.

Uma vez consumada a ruptura, seria o coordenador-geral da "gabinete de crise".

Mauro Cid

Tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos AntidemocrĂĄticos, da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), em BrasĂ­lia, nesta quinta-feira, 24.

WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Quem é: ex-ajudante de ordens da PresidĂȘncia no governo Jair Bolsonaro;

O que diz a PGR: fazia parte do "nĂșcleo crucial" junto com Bolsonaro e os outros seis denunciados. Mas tinha "menor autonomia decisória".

Atuou como porta-voz do ex-presidente, transmitindo orientações aos demais integrantes do grupo. Trocou mensagens com outros militares investigados para obter, inclusive com a ação de hackers, material para colocar em dĂșvida o processo eleitoral.

Tinha, em seu celular, documento datado de novembro de 2022. O material era uma minuta a ser assinada por representante de partido polĂ­tico, com informações sobre suposta fraude nas urnas. Também tinha, no mesmo aparelho, documento que seria um discurso de Bolsonaro após o golpe.

Participou de diĂĄlogos em que se tratou do plano "Punhal Verde e Amarelo".

Crimes

A PGR atribuiu ao grupo cinco crimes:

??abolição violenta do Estado DemocrĂĄtico de Direito: pune o ato de "tentar, com emprego de violĂȘncia ou grave ameaça, abolir o Estado DemocrĂĄtico de Direito, impedindo ou restringindo o exercĂ­cio dos poderes constitucionais". A pena varia de 4 a 8 anos de prisão.

??golpe de Estado: fica configurado quando uma pessoa tenta "depor, por meio de violĂȘncia ou grave ameaça, o governo legitimamente constituĂ­do". A punição é aplicada por prisão, no perĂ­odo de 4 a 12 anos.

??organização criminosa: quando quatro ou mais pessoas se reĂșnem, de forma ordenada e com divisão de tarefas, para cometer crimes. Pena de 3 a 8 anos.

??dano qualificado: destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia, com violĂȘncia e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerĂĄvel prejuĂ­zo para a vĂ­tima. Pena de seis meses a trĂȘs anos.

??deterioração de patrimônio tombado: destruir, inutilizar ou deteriorar bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial. Pena de um a trĂȘs anos.

Fonte: G1

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