Foto: Panorama Real
Foram 315 votos a favor, quatro abstenções e 143 votos contrĂĄrios ao pedido protocolado pelo PL, partido de Ramagem e Bolsonaro.
Além de Ramagem, o texto do relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), incluiu o ex-presidente Jair Bolsonaro, ex-ministros e militares como beneficiados.
O presidente da Câmara, Hugo Motta, incluiu, de forma intempestiva, a votação do pedido no plenĂĄrio pouco depois de a proposta ter sido aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.
Ao anunciar a inclusão da proposta, Motta disse que o procedimento passaria por uma espécie de rito sumĂĄrio, com votação por maioria absoluta, mĂnimo de 257 votos favorĂĄveis. A sustação foi o primeiro item a ser votado.
Ele também ordenou que não haveria discussão do tema pelos membros da Casa, com a justificativa de que haveria um curto prazo para a deliberação da matéria, com a palavra franqueada apenas ao relator da matéria na CCJ e a Alexandre Ramagem, que optou por não se pronunciar.
"Não serão admitidos requerimentos de retirada de pauta, adiamento de votação ou discussão. Não haverĂĄ discussão, nem encaminhamento da proposição, emendas ou destaques. O plenĂĄrio deliberarĂĄ exclusivamente sobre a aprovação ou não do parecer aprovado na CCJ", determinou.
Diversos deputados criticaram a atitude do presidente, apontando que seria uma manobra para impossibilitar o debate do tema.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) argumentou, em uma questão de ordem, que a determinação impedia rever pontos do relatório aprovado na CCJ, em especial sobre a imunidade para os réus sem prerrogativa de foro.
"A CCJ deveria afirmar que a sustação que vai ser analisada por esse plenĂĄrio deveria ser aplicada apenas ao deputado Ramagem, jĂĄ que a imunidade é do parlamentar. A leitura do parecer do relator mostra uma tentativa de estabelecer bases para uma trama que suspenderia toda uma ação penal que incluiria 34 réus no Supremo Tribunal Federal. Isso amplia o alcance da imunidade para além do parlamentar", disse.
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) alegou que o "deputado Ramagem virou um guarda-chuva por esse projeto para outros que não tem imunidade parlamentar, como o ex-presidente Bolsonaro".
"Eu entendo que queriam defender aqui o Ramagem, mas trancar ação de um julgamento que ainda nem começou é claramente inconstitucional", apontou o lĂder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), citando jurisprudĂȘncia da Corte que diz que a prerrogativa parlamentar não se estende a outros réus sem foro parlamentar.
Motta respondeu que, como presidente da Câmara, "recolhe a questão de ordem e responderĂĄ no momento em que achar necessĂĄrio" e, em seguida, passou a palavra ao relator.
O artigo 53 da Constituição permite que a Câmara ou o Senado suspenda ações contra deputados e senadores por crime ocorrido após a diplomação: "Recebida a denĂșncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal darĂĄ ciĂȘncia à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido polĂtico nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderĂĄ, até a decisão final, sustar o andamento da ação".
Na avaliação do relator, o texto da Constituição pode abranger os demais corréus, uma vez que o artigo fala em sustação da "ação".
"Quem resolveu colocar Ramagem e os demais numa denĂșncia foi o Ministério PĂșblico e o STF. A Primeira Turma [do STF] acolheu a denĂșncia contra todos os denunciados e colocou no mesmo vagão," disse o relator Alfredo Gaspar.
Durante a votação, deputados dos partidos contrĂĄrios ao pedido de sustação (PT, PSOL, PSB, PDT, Rede, PSOL e PCdoB) gritaram palavras como "sem anistia".
Em ofĂcio enviado à Câmara, em abril, o STF informou que – segundo a Constituição – a Câmara só poderia suspender a tramitação das ações dos crimes cometidos após a diplomação de Ramagem como deputado. Com isso, os crimes de tentativa de golpe de Estado e de participação em organização criminosa não poderiam ser suspensos, segundo a Corte.
A maioria da Primeira Turma do STF votou para tornar réus Jair Bolsonaro e mais sete denunciados pela trama golpista, entre eles Alexandre Ramagem, ex-diretor da AgĂȘncia Brasileira de InteligĂȘncia na gestão de Bolsonaro. Todos compõem o chamado "nĂșcleo crucial" da denĂșncia.
A denĂșncia da Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR) diz que o objetivo da trama era anular as eleições presidenciais de 2022 e a tentativa de assassinar o presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Os investigados negam as acusações.
Fonte: EBC