Um tribunal da Guatemala inabilitou na quarta-feira, 12, o partido Semilla, do candidato social-democrata Bernardo Arévalo, o que, na prĂĄtica, impede que o candidato dispute o segundo turno – marcado para 20 de agosto – contra a ex-primeira dama Sandra Torres, também social-democrata. O anĂșncio foi feito por Rafael Curruchiche, chefe da Procuradoria Especial contra a Impunidade (Feci), que solicitou a inabilitação. A decisão judicial se dĂĄ após a apresentação de recursos judiciais pelos partidos que perderam o primeiro turno, no mĂȘs passado, o que atrasou a proclamação dos social-democratas Sandra Torres e Bernardo Arévalo como vencedores. O procurador Curruchiche, alvo de sanções americanas, justificou a medida contra o Semilla alegando supostas irregularidades na coleta de assinaturas para a sua legalização. A intervenção da Justiça gerou revolta entre os guatemaltecos e mantém suspenso o segundo turno eleitoral previsto para 20 de agosto.
O Semilla apresentou à Corte de Constitucionalidade um mandado de proteção contra a decisão do juiz Fredy Orellana. O partido considera que o magistrado infringiu a lei guatemalteca, que estabelece que "não poderĂĄ se suspender um partido depois da convocação de uma eleição e até que essa tenha sido celebrada". "O que estão tentando fazer é inventar um caso, como bem o denunciamos agora, para tentar derrubar o partido e a candidatura de Bernardo Arévalo", disse o deputado do Semilla Samuel Pérez. Após o anĂșncio da inabilitação do partido, seguidores de Arévalo se manifestaram em frente à sede do TSE na capital durante a noite de quarta-feira. "Estamos de pé lutando para defender o sistema democrĂĄtico guatemalteco. Pela primeira vez, estĂĄ sob uma ameaça inacreditĂĄvel, e forças muito grandes estão se movimentando para destrui-lo, mas estamos aqui para defendĂȘ-lo", disse à AFP o manifestante Victor Castro. Os Estados Unidos classificaram a decisão judicial como "novas ameaças à democracia" por parte do Ministério PĂșblico guatemalteco.
A decisão judicial desencadeou manifestações no paĂs e crĂticas dos Estados Unidos, às quais se somaram advertĂȘncias da cĂșpula empresarial guatemalteca e da União Europeia. "É imperativo respeitar a decisão da mĂĄxima entidade eleitoral e a vontade dos guatemaltecos expressada nas urnas" em 25 de junho, no primeiro turno presidencial, declarou o ComitĂȘ Coordenador de Associações Comerciais, Industriais e Financeiras (CACIF) em um comunicado. A UE criticou o promotor Rafael Curruchiche, que pediu a inabilitação do Semilla à Justiça, afirmando que, "em pleno processo eleitoral, ameaça uma das bases da democracia: o respeito à vontade popular expressada nas urnas". Em uma nota, o bloco europeu pediu o "fim da judicialização das eleições com manobras que tĂȘm um duvidoso encaixe legal no ordenamento jurĂdico guatemalteco e que os poderes pĂșblicos garantam o livre exercĂcio do voto, sem impedimentos de qualquer tipo".
Segundo turno inesperado
A chegada da esquerda ao 2Âș turno foi uma surpresa, pois as pesquisas não indicavam que essa era uma possibilidade. Arévalo de León recebeu 12,19% dos votos contra 15,12% de Sandra. As pesquisas indicavam que Arévalo de León e seu grupo, o Semilla, saĂram da luta anticorrupção na Guatemala em 2015, obteriam o sétimo ou oitavo lugar, mas o apoio nas ĂĄreas urbanas foi crucial para sua chegada ao segundo turno. Nenhuma das pesquisas divulgadas no processo eleitoral dava que Arévalo de León, cujo pai, Juan José Arévalo Bermejo, governou o paĂs entre 1945 e 1951, poderia continuar na disputa caso não houvesse uma vitória logo de cara. A época em que seu pai foi presidente é perĂodo considerada uma primavera para a história polĂtica da nação centro-americana.